Na piscina sou recebido pelas músicas “Baile de Verão” e “A Bela Portuguesa”, de José Malhoa e Marante, esses dois vultos da música nacional. Pensei: «lá sintonizaram na M80, raios!»
Uma vez que, considerada a hora, não tinha alternativa se queria dar um mergulho, dispus-me ao estoicismo: procurei dentro de mim a capacidade de conviver com tal banda sonora. As 700 e tal páginas de Fernando Aramburu seriam uma boa camada de isolamento acústico, mas nem precisava disso, não faltavam na minha memória exemplos de como era possível ser feliz apesar daquela música. Ou até com a ajuda daquela música (e de umas cervejas, é certo), presente já na segunda metade dos arraiais a que fui na vida. Tive então por instantes o meu momento “Querido mês de Agosto” e, trajado para o banho, dispus-me a experimentar uns passos de dança na plataforma da piscina. Não na modalidade que implicaria fazer a ronda das moças em biquíni para conseguir par, mas antes naquela que o dispensa — a alternativa dos bêbados de aldeia, habituados a recusas divertidas ou enojadas mas nem por isso desmobilizados.
Tinha já esticado um braço, levado a mão direita ao coração, erguido os ombros e fechado os olhos na pose apropriada, com o típico sorriso sonhador (e ébrio) nos lábios, quando a música mudou para um registo mais clássico da M80: “Johnny B. Goode”, na versão de Peter Tosh, a iniciar um set de reggae que evocava as discotecas ao domingo à tarde.
O melhoramento da sonoplastia não impediu, porém, que me sentisse como se tivessem atirado comigo à água fria. Depois disso, só me restava ler para disfarçar o despeito.
Não sei se seria capaz de tanto...mas é uma boa ideia virar uma coisa desagradável a nosso favor...confesso que a minha tendência seria pedir para colocar mais baixo já que não me atreveria a pedir para sintonizar outra coisa com receio de ouvir que se não gosto, posso sempre mudar de lugar (coisa que já ouvi por o pedir).
ResponderEliminarQuando posso, sigo a escola filosófica pythoniana. ;)
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