Decidido a ir à piscina, meti a toalha e um livro no bornal e pus-me a caminho. Quando desenrolei a trouxa, pousei o livro na espreguiçadeira com a capa virada para cima e tive um breve estremecimento de embaraço. O livro chama-se Os Beijos e apresenta a todo o tamanho da capa — a preto e branco para ser ainda mais evocativo — um cavalheiro a beijar o queixo de uma donzela, ambos de amorosos olhos fechados, ela com certa malícia nos lábios.
Estava já a imaginar toda a fauna em redor da minha palmeira, pelo menos a da minha idade, ao ver-me com aquele livro nas mãos a servir de pára-sol, em exibição ainda mais ostensiva do que nas estantes de destaques da Bertrand, comentar com desdém: «ora ali está um maduro a ler um tomo da Corín Tellado».
Depois, constatando que hoje não havia interferências pimba na rádio, pensei que alguém tinha que trazer para a tarde balnear uma sugestão de subcultura, para agora não desiludir quem me lê. Recuperei o domínio e mergulhei decidida e ornamentalmente no meu romance do coração.
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