domingo, 28 de novembro de 2021

Caldeirada de cogumelos

Conversas sobre o assunto ou uma pesquisa na Internet revelam que os nomes dos cogumelos, além de múltiplos, são intermutáveis. O que num sítio é conhecido por frade, noutro é conhecido por tortulho, e o que eu conheço por tortulho conhecem outros como míscaro, que por sua vez era o meu tortulho. Percebo agora porque é que na minha família só se comiam frades e, mais raramente, tortulhos (dos nossos). Comia-se o que se conhecia directamente, por já alguém ter comido e sobrevivido para o testemunhar, não o que outros dissessem que era comestível. Porque sendo os nomes tão intermutáveis, a possibilidade de alguém estar a chamar um nome comestível a um cogumelo venenoso não era de excluir. Lá na aldeia havia quem comesse também sanchas e míscaros (que outros chamam de tortulhos) e tudo indica que sobreviviam, porque no dia seguinte víamo-los na rua. Por vezes eu e os meus irmãos apanhávamos o que conhecíamos por míscaros e sanchas (que nunca levávamos para casa) e dávamo-los a rapaziada em cujas casas sabíamos que se comiam míscaros e sanchas. Não me recordo que alguém no bairro tivesse morrido intoxicado pela nossa dádiva, mas é verdade que a medicina e os registos de óbitos não eram o que são hoje.
Pelo sim, pelo não, em minha casa a certa altura já só se comia frades. E cozinhados sempre de forma rigorosamente alquímica, com uma colher de prata dentro do tacho.

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