Formam um par e andam comigo há uns bons vinte e cinco anos. Juntos, somos uma fidelíssima trindade, um threesome bem aconchegado nas noites de Inverno. Hoje uma perdeu-se no caminho de ida. Só dei pela sua falta quando me preparava para regressar, horas mais tarde.
Pressenti a mágoa da perda, mas não perdi logo a esperança. Era agora de noite e era remota a hipótese de não ter sido entretanto tomada por ninguém, remota a hipótese de ter conseguido esconder-se de forma suficientemente eficaz para que a não agarrassem e fizessem sabe-se lá o quê com ela ou não a deitassem numa valeta por a acharem sem préstimo. Ainda assim, retrocedi sobre cada um dos meus passos o melhor que pude e me lembrava, de candeia na mão nua a iluminar o caminho. Quase no fim do trajecto, ou seja, quase no início do trajecto, lá estava ela, caída e espezinhada numa rua de muito movimento, com marcas de lhe terem passado com o carro por cima — mas viva. Julgo que levantou um dedito quando eu hesitava quanto ao lugar onde tinha atravessado a rua e por isso a vi.
Vinte e cinco anos depois, o par não se desfez senão por umas horas e continuamos por isso a ser um triângulo amoroso, as minhas luvas e eu. As minhas duas luvas e eu. Sem sentimentos de traição, ciúme ou amor não correspondido — e, contra todas as probabilidades, sem a mágoa da perda. Não vale a pena invocar Phil Collins, afinal.
What a nice glovely love!
ResponderEliminarSaudações Periféricas.
🧤
:) Thanks!
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