sábado, 6 de novembro de 2021

Anjos nada tronchos

Vejo alguns vídeos do novo disco de Caetano Veloso e ocorre-me que há neles uma certa afinidade com vídeos dos dois últimos álbuns de David Bowie, The Next Day e Blackstar. Não me tomem por agoirento ou mórbido, não falo de pressentimentos ou presságios. O que eu vejo, pelo contrário, é dois génios a quem a idade ou a fragilidade não impedem o ímpeto criativo e inovador, não impedem, enfim, a criação de obras geniais. Dois génios que também não temem expor as marcas do tempo ou da fragilidade, no rosto ou na voz ou nos gestos dos videoclips, antes os adicionam ao material com que moldam a obra, como o elemento que ali se ajusta para conseguir uma nova e bela harmonia na soma das partes. Génios que não se limitam a viver o seu tempo e os tempos, mas antes marcam o tempo, com a forma como absorvem e fundem influências e digerem o zeitgeist, sintetizando algo novo e contundente.
Os discos de David Bowie soam noir e a espaços o de Caetano também, mas, sendo brasileiro, ele encontra sempre lugar para o samba, mesmo numa música como “Anjos Tronchos” (nem que seja por dois ou três preciosos e significativos segundos — aos 2´57´´).

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