sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A (pato)lógica bravura empresarial

1. Sobre o corte nas bolsas científicas diz o Ministro da Economia que não se pode «alimentar um modelo que permita à investigação e à ciência viverem no conforto de estar longe das empresas e da vida real». Com Pires de Lima, suspeito, a investigação faz-se junto às linhas de engarrafamento da Unicer, com tempo contado para ir à casa de banho.

A solução é, portanto, cortar. Cortar nas bolsas aumentará decerto a investigação que chega à economia real. Deve ser a isto que, na mesma notícia, Pires de Lima chama «dar continuidade à trajectória de investimento, mas também procurar criar um modelo de estímulos e de sinais que ligue a investigação, a ciência, a educação à vida concreta e real das empresas». De facto, que melhor estímulo haverá para a «vida concreta» do que bolsos vazios?

3. Creio que a notícia não apresenta a citação completa do que o Ministro propunha. O que ele queria dizer era «ligar a investigação, a ciência, a educação à vida concreta e real das empresas falidas». Por uma questão de equidade, não faz realmente sentido que haja alguém a comer quando outros passam fome.

4. Quando esta rapaziada do PP e do PSD acabar de “salvar” o país, a única coisa que haverá para investigar, para além de algumas contas bancárias, é como tantos anos de história ficaram reduzidos a tão escassas cinzas. É sempre assim nos incêndios.

1 comentário:

  1. Tudo isto que se está a passar me faz lembrar um poema de Brecht.

    "Primeiro levaram os negros
    Mas não me importei com isso
    Eu não era negro

    Em seguida levaram alguns operários
    Mas não me importei com isso
    Eu também não era operário

    (etc)"

    Deve ter havido muito boa gente que, por um ódio irracional a Sócrates, não se ensaiou nada para o tirar de lá, mesmo sabendo que a seguir viria alguém mil vezes pior.

    Mas devem ter achado que 'eles' iam atacar apenas as gorduras de Estado.

    Mesmo quando viram que o que eles estavam a mexer era nos rendimentos dos funcionários públicos, devem ter pensado que não fazia mal, era só nos funcionários públicos.

    Depois começaram também a sacrificar os pensionistas. Mas muita gente não se deve ter importado, não era pensionista.

    E os viúvos/viúvas. Mas isso não assustava ninguém: apenas os viúvos.

    E os professores.

    E ...

    E agora os cientistas.

    E já vai até nos próprios deputados (como se viu no caso deste miserável referendo).

    Dizem-se liberais mas não são. São simplesmente radicais, ignorantes, estúpidos, uma vergonha.


    PS: Claro que gostei do que escreveu quer aqui, quer nos posts anteriores. Deveria ter começado por dizer isto.


    Um bom fim de semana!

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