Na TVI, uma apresentadora de ar jovial e atitude picaresca, falando rápido
demais e muito divertida com o seu trabalho numa qualquer feira ou romaria do
país profundo, descobre com gritinhos histéricos que a vaca no curral por trás
de si resolveu aliviar a bexiga. Tomando aquilo por um fenómeno do
Entroncamento, a urbana e excitável menina resolve estar perante um momento
alto televisivo e insiste no assunto, aos pulinhos e aos risinhos, mantendo o
nível de histeria, chamando a atenção dos espectadores, puxando o braço do cameraman. Mais tarde no mesmo programa sobre
os portugueses como eles são, a mesma extrovertida e agora ainda mais descontrolada
rapariga fará semelhante cobertura televisiva do momento em que aquela ou outra
vaca cumpre os seus ciclos biológicos aliviando em directo desta vez o intestino.
Sendo a vaca o único ser vivo com aspecto respeitável no recinto, suspeito que o olhar lacónico do animal escondia um espírito sarcástico,
corrosivo, com talento para a metáfora endereçada — e sem receio da escatologia. Claro que a rapariga-apresentadora não estava familiarizada com tais subtilezas do intelecto, havia outro DNA nos seus cromossomas, estava noutro nível da evolução.
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