Lá em casa levávamos broncas se numa visita curta a um compartimento ou
na passagem por um corredor acendíamos lâmpadas fluorescentes em vez de
incandescentes. Estávamos avisados e informados: as lâmpadas incandescentes
consumiam mais quando acesas em permanência; as fluorescentes, mais baratas em
utilizações prolongadas, custavam caro a acender. Se apenas estávamos de
passagem ou íamos entrar e sair, não havia nenhuma boa desculpa para acender
lâmpadas fluorescentes. Esse erro agastava sobremaneira o nosso pai,
provocando-lhe em certas alturas uma irascibilidade que só viemos a percebemos de
todo quando soubemos o que era viver com um ordenado que demasiadas vezes não
chegava ao fim do mês.
Hoje, num reflexo daqueles tempos, desloco-me pela casa apagando a luz
dos compartimentos atrás de mim, mesmo que tencione voltar, enquanto acendo a
dos que me ficam no caminho. Por vezes fico às escuras alguns metros, se os
interruptores não estão próximos e acho supérfluo iluminar uns poucos passos.
Não me perturba este jogo. Como não me perturba ir a pé para o trabalho. O
ambiente ganha com isso. Eu gasto menos com isso. Perturba-me que venha a
precisar de uma mercearia que venda fiado e não a encontre. Não encontre mercearias
de espécie nenhuma. Nem tudo do passado é repetível. No portugalzinho provinciano
e comunitário de Salazar era possível levar uma grande lista de compras e
dinheiro nenhum na carteira. Os franchises
de hoje, mesmo quando apresentam rostos mais simpáticos por detrás da
registadora, não têm a mesma confiança na palavra dada. Além de que, suspeito,
a companhia da electricidade é hoje mais despida de escrúpulos na hora de
definir tarifários.
podemos voltar a ser pobrezinhos, mas o mundo lá fora é diferente.
ResponderEliminarparece ainda menos adaptado que nós...
o que é mais visível é o lixo espalhado em quase todas as ruas, agora que os camiões do lixo só passam duas a três vezes por semana pela Cidade.
as passagens do 8 para o 80 deixam marcas por todo o lado.
mas pior é o que estão a fazer na saúde e educação.
no fundo eles querem mesmo que os velhos vão morrendo, para lhes deixarem de pagar reformas, como se o problema da crise fosse das reformas de duzentos e poucos euros...