quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
Mulher a rezar
Antes de se virar a esquina e iniciar a rampa do Calvário, há de cada lado
da estrada uma capelinha ou pequeno santuário com portão em barras de ferro. De
um lado está Cristo carregando a Cruz, do outro uma santa, provavelmente uma
das várias manifestações da Virgem. A mulher reza daquele lado. Numa observação
menos atenta, não se diria que reza: posição do corpo a três quartos, como quem
está de passagem e mal se deteve para uma espreitadela curiosa; sapatos e roupa
de sair em passeio; cabelo acabado de lavar no cabeleireiro; a carteira na mão direita,
a de fora, exactamente como quando ela se encosta ao vidro de uma montra a passar
os olhos pelos saldos ou pela nova colecção. Dir-se-ia visitante, turista, mas
a mão esquerda, firmemente agarrada a uma das barras do portão, impregnando-se de
ferrugem, segurando-se ali como náufrago à corda salvífica, confirma que reza.
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Muito bonito este seu apontamento. Se é ficção gostava de ter sido eu a escrever. Se é verdade, gostava de ter fotografado.
ResponderEliminarObrigado. E nesse caso a fotografia e o título teriam sido suficientemente eloquentes.
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