Muitos destes críticos já estavam no activo em 2003, quando por toda a
Europa as pessoas se manifestavam contra a guerra no Iraque. Então como agora, vituperavam
ou despejavam sarcasmo nas manifestações e nos manifestantes. O argumentário usado
não diferia muito do de hoje. Soletrava da mesma cartilha.
Como a História o comprovou, os manifestantes estavam então certos e os
comentadores redondamente enganados. Muitos deles não passavam de rapazes iludidos com um ideário, prontos para acreditar em qualquer patranha envernizada da
forma certa. As equipas de Bush e Blair confiaram nisso, conheciam o género.
A partir de uma mentira aceite com uma candidez e um voluntarismo
surpreendentes, a guerra fez-se, e o prejuízo para o mundo foi tremendo, as
ondas de choque ainda hoje se sentem. No entanto, esta rapaziada crítica de
manifestações nunca deu o braço a torcer. O problema foi a mentira dos outros,
não a sua credulidade pateta. Não ruborizaram quando caiu a máscara. Não sentem
remorsos agora.
Contudo, o embaraço de 2003 devia inibir um pouco a seita, fazê-la
pensar duas vezes sempre que dispara contra as manifestações. É bem verdade que
existem manifestantes profissionais e gente à procura de sarilhos. Não se pode
negar que muitos dos que engrossam as filas não têm nenhuma ideia do que estão
a defender ou a atacar, muito menos têm qualquer contributo fundamentado para o
debate. Mas, porra, quem são estes comentadores cadastrados para, por assim
dizer, atirar a primeira pedra da calçada?
Não digo que as receitas da troika
incluam mentiras conscientes sobre algo equivalente a armas de destruição
massiva. (Também não digo o contrário.) Não digo que todos os manifestantes
sejam de uma lisura inatacável. Mas não se deve ignorar que, ao contrário da «maioria
silenciosa» supostamente prejudicada na sua inocência com as greves e as
manifestações, muitos dos manifestantes, os mais assíduos, são pessoas que não votaram nos governos PS e PSD — o
que talvez os alivie um pouco da culpa de termos vivido os últimos tempos acima
das nossas posses. E, voltando a 2003, é bom lembrar que a intuição que leva um
número crescente de pessoas a manifestar-se nem sempre deve ser menosprezada.
Nunca se sabe se não está certa.
Nem mais.
ResponderEliminar"(...)É bem verdade que existem manifestantes profissionais e gente à procura de sarilhos. Não se pode negar que muitos dos que engrossam as filas não têm nenhuma ideia do que estão a defender ou a atacar, muito menos têm qualquer contributo fundamentado para o debate. (...)"
ResponderEliminarVoilá.
Que parte do meu texto não percebeu, Margarida? Precisa de um desenhito?
ResponderEliminarPercebi tudinho, mas como aprecio arte em geral, se entender, faça o obséquio.
ResponderEliminar:)