Tive há pouco uma conversa com o meu fornecedor de e-mail e perguntei-lhe por que carga d’água não filtra ele as mensagens
da Bertrand como faz por exemplo às que anunciam soluções para encolher a
barriga ou esticar o pénis. Disse-me que o facto de o lixo da Bertrand ser
exibido encadernado e com lombada confunde a firewall ou lá o que é. Desconfiei. Pareceu-me demasiado humana,
aquela firewall, demasiado idêntica ao
cliente-tipo da Bertrand tal como o entendem os seus responsáveis. Algo vai mal
no mundo quando já nem bichinhos tão briosos e altivos como as firewalls se dão ao respeito.
***
Entrar numa livraria Bertrand (na daqui, pelo menos) começa a ser
assustadoramente igual a receber uma newsletter
Bertrand. Nos últimos anos os livros foram recuando nos expositores para dar
lugar a uma tralha dirigida a adolescentes ou mesas de cabeleireiro, como se o
espaço tivesse sido alugado a Hollywood ou à Isabel Queirós do Vale. Não tenho
nada contra adolescentes e mesas de cabeleireiro — nada que os tribunais
aceitem, infelizmente —, mas o mundo era um lugar menos estranho quando as
livrarias apenas lhes destinavam secções próximas dos livros para pintar.
Depois de entrar na Bertrand, um tipo faz slalom entre mesas e prateleiras e lá consegue encontrar aqui e ali
um livrito. Nada que impressione. Quando tinha vinte e tal anos, achava que uma
livraria era um local onde gastaria o resto da mocidade e toda uma longa
reforma, se ficasse lá dentro a ler os livros. Hoje, enquanto vou eliminando
todos os volumes que já li (e não leio muito), noto horrorizado que a minha
vida vai ser curta, se a medir em obras para
ler disponíveis na Bertrand.
"slalom", com 'm'.
ResponderEliminarGosto mais da Bertrand do que da Fnac e as 'minhas' Bertrands têm muitos livros, graças aos céus!
Quanto ao merchandising..., será culpa da livraria? ou sinal destes tempos abstrusos?