segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Determinismo a la carte

«Que parte não perceberam: não há dinheiro!» Esta é uma forma estúpida de expressar as coisas, dotada do carisma e do potencial mobilizador de um preguiça pendurado pelas unhas, mas é possível que esteja certa. As reivindicações sectoriais, no seu egoísmo cego, conseguem aqui e ali um alívio para as suas particulares dores (quanto mais acima estiverem na hierarquia do capitalismo mais o conseguem), mas não resolverão nada de geral e fundamental. Provavelmente a crise é de tal forma que não nos vai restar alternativa ao empobrecimento e ao desemprego, ao desemprego desamparado. A distopia deixou de ser um género literário ou cinematográfico para ser o degrau seguinte da evolução. Talvez regressem a fome, a guerra, as deambulações fantasmais de massas esfaimadas. O fluxo urbano será no futuro constituído por hordas cambaleantes de novos caçadores-recolectores, antecedidas de breves incursões iradas de gangues apocalípticos à procura do último supermercado, da última mercearia, da última lata de conservas. Antes disso, um bife, quando aparecer, há-de novamente ter de chegar para uma família, e a semana de trabalho, para os que o tiverem, deixará de ser inglesa para ser neo-helénica (seis dias, não é?) e depois asiática (full time). Regressaremos às hortas, à pesca à linha, à economia baseada na troca de artigos, e um dia a população na Terra começara finalmente, naturalmente, a regredir.
Talvez os crentes na austeridade estejam certos e não mais possa haver classe média, assistência social, solidariedade de estado. Talvez seja até justo irmos ao encontro do nosso lugar no Terceiro Mundo, o destino a cobrar-nos a arrogância e o egoísmo de séculos, a cobrar-nos a imprevidência de cigarras patetas e eleitores imbecis. Sim, talvez não haja alternativa ao castigo.
Mas em que momento começarão o Governo e os poderes na Europa a testar outras vias? Em que momento concederão que por este caminho o desemprego não vai diminuir nunca? Quando estarão dispostos a aceitar que, com o empobrecimento geral da sociedade, era natural, expectável, que houvesse um empobrecimento proporcional dos ricos?
Que constatação determinista, fria, escolheram os líderes europeus: que tem de haver pobres ou que tem de haver ricos? Dito de outra maneira: para a gente que nos governa, a pobreza generalizada é inevitável ou é a riqueza de uns poucos que é em qualquer circunstância inegociável? 

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