sábado, 9 de janeiro de 2021

À escuta

Espreito pela janela a fila de árvores que sobrou das obras da escola, agora despida de folhas excepto por dois pares de cedros. Dir-se-ia não correr a mínima aragem, mas a impressão é desmentida pela palmeira da quinta casa do lado direito cujos ramos em forma de jactos de fonte ornamental se inquietam um pouco. É um sábado à tarde e a cidade está estranhamente silenciosa. Nem a televisão do vizinho se ouve, e julgo que não é porque os canais tenham de repente ficado sem apresentadores ou convidados histéricos. O ar é de neve e talvez estejamos no «olho» da tempestade (dizem os filmes que é calmo assim). Ou está toda a gente a fingir que não conviveu no Natal, para ver se evita o confinamento anunciado. Esta ideia poderia ser confirmada se me chegassem imagens do conselho de ministros com os ditos num terraço de S. Bento equipados com tecnologia da Primeira Guerra Mundial usada para detectar aviões. Mas não chegam essas imagens e isso é que é triste.



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