quinta-feira, 25 de junho de 2020

O caixote das coisas justas

Nas mudanças de estação, se não somos adeptos de disruptivos banhos de loja, imergimos decerto no guarda-roupa lá de casa em busca da indumentária da época. Dá-se o caso, a partir de certa idade e de certo genótipo, de encontrarmos ali peças, ainda em anos anteriores viáveis e suficientemente neutras para irem bem com qualquer moda, que de repente se não deixam vestir, encalhando nas curvas. É a altura em que, se temos familiares receptivos e magros ou subestimamos a vaidade dos pobres que visitam o contentor público de roupas usadas, atiramos com intenção pretensamente temporária (mas procrastinadora) as peças para o caixote das coisas justas. E ficamos de repente pesarosos. Não pela silhueta perdida, mas pela possibilidade, que nos sugere a reverberação do nome, de no caixote termos vindo a arquivar mais do que roupa.

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