Mais tarde ainda (tipo, agora) descobrimos que também não foram os manos Righteous a escrever a “Unchained Melody”, mas um casal broa-de-mel chamado Felice and Boudleaux Bryant, cuja versão, depois de ver a fotografia dos autores, não procurei por mero preconceito já traído atrás nesta frase.
Certos hits são como palimpsestos ou sítios arqueológicos: mexemos neles com uma escova de dentes de dureza média ou mesmo suave e encontramos algo por baixo. A experiência pode ser frustrante se descobrimos durante a escovagem que certos deuses do nosso panteão padecem do vício ignominioso de cançonetistas como Marco Paulo ou Tony Carreira. É então que nos faz bem ouvir alguém tão velho e sapiente como Johnny Cash numa cover, por exemplo, de “Personal Jesus”, dos Depeche Mode. Se um ancião da country pode pegar numa música de uma banda industrial da Inglaterra... Esperem, chegaram mais informações: diz que os DM escreveram a canção inspirando-se em Elvis Presley. Além do mais, a música soa bastante americana...
Adiante. Se somos capazes de ouvir com gosto pessoas de gerações e tribos distintas cantar a mesma melodia, talvez a arte não resida apenas na criação mas igualmente, ou em proporção justa, na interpretação. Como não amar “Smells Like Teen Spirit” por Tori Amos? Música desses Nirvana que cantaram Bowie em “The Man Who Sold The World”. Mutatis mutandis, o que nos importava a nós, há um século, se quando a Kim Wilde cantava “You Keep Me Hangin’ On” estava a fazer uma cover das Supremes? (Ok, aqui talvez não fosse exactamente a mesma coisa. Ou só essa coisa.)
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* Por «primeiro minuto da cassete» entenda-se o primeiro minuto deste vídeo: https://youtu.be/qiiyq2xrSI0
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* Por «primeiro minuto da cassete» entenda-se o primeiro minuto deste vídeo: https://youtu.be/qiiyq2xrSI0
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