Está a ganhar folhas finalmente a última árvore da fila que se alinha, pela minha perspectiva de quinto andar quando sentado a ler, na base da janela. Está agora quase completa, e assim vai ficar, a paleta de verdes-primavera que do lado poente ameniza a vista da cidade. Assim vai ficar porque as folhas que completariam a paleta já não têm árvores onde nascer. A fila era antigamente parte de um L, mas um dos lados deste foi banido por mor das obras que se fizeram na escola. E logo aqui em baixo, no cul-de-sac, foi erradicado um dos elementos do belo par amoroso que dava sombra ao estacionamento e encanto à praceta, talvez porque à noite também tornava mais resguardada a erva que ali se fuma há gerações.
Se não me levantar da cadeira, se erguer apenas os olhos do livro para a vista, posso esquecer a tragédia amorosa e estética do cul-de-sac e, de vestígios humanos, ter apenas, por sobre a fila de árvores, as aldeias lá longe na encosta do Alvão, distantes o suficiente para não terem escala humana, serem uma perturbação menor na paisagem.
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