A dupla Quim Roscas e Zeca Estacionâncio parece provar que a ascensão
social é possível nesta egrégia nação. Dois moços dados às anedotas, aparentemente
condenados, como noutros tempos, a animarem os serões de tascas de província,
conseguem um programa de televisão em horário nobre — o “Telerural”, emitido a partir
de Curral das Moinas. Um deles vai mais longe e, qual sapo beijado por princesa
do Lumiar (ou de lá onde a RTP tem os estúdios), não tarda é transformado em
apresentador de concursos. Num terceiro momento da sua ascensão, ambos têm o venerável
Nicolau Breyner a fazê-los protagonistas de “7 pecados rurais”, um filme
seminal (eles haveriam de apreciar o potencial javardo desta qualificação).
Todo este sucesso parece provar, dizia, que Portugal não tem o ascensor
social avariado. Os pobres e os indigentes, sobretudo estes, conseguem chegar
ao topo. Mas se analisarmos bem o fenómeno percebemos que é tudo um problema de
fundações: o duo não saiu do rés-do-chão: o edifício nacional é que se afundou
mais no solo em algumas décadas do que a Torre de Pisa em séculos.
Magistral. Touchée!
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