Desde cedo alimentei indecisas ambições artísticas. E também cedo
aprendi a definir-me, antes de mais, como alguém que assiste ao que os outros
criam. Isto não foi o prémio de consolação que atribuí aos meus escassos
talentos, mas a consciência de que me vinha mais prazer do acto de ler, ver ou
ouvir do que de “criar”. Mesmo agora, quando a escrita me recruta
quotidianamente, me comprazo em saber que um livro me aguarda com paciência na mesa-de-cabeceira.
Não porque tema falhar e precisar de conforto nas palavras dos outros, mas
porque estou ciente da minha vocação para ler. O talento dos outros não é,
afinal, uma panaceia para o mal d’être,
mas o território onde as nossas próprias aptidões se exercem e exercitam. Assistir é viver.
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