domingo, 25 de abril de 2021

Dilemas morais que capturam uma mente contemporânea na hora de arrumar livros na estante

Lido com prazer e proveito o primeiro dos dois livros de Linda Boström Knausgård que encomendei* fui arrumá-lo na estante e as habituais hesitações arquivológicas foram agravadas por um dilema, digamos, ético.
O primeiro impulso foi juntar o livro aos volumes de Karl Ove Knausgård, com base em afinidades geográficas e de apelido. Achei desadequado, não tanto porque os Knausgård estão divorciados mas porque aquela arrumação poderia sugerir uma subordinação de uma a outro.
Com isto em mente, lembrei-me de o juntar aos de Siri Hustvedt, uma escritora que não usa o apelido do marido mas que foi durante muito tempo apresentada como «esposa de Paul Auster». Também não me agradou a ideia, porque seria reagir gregariamente, continuando a subordinar a individualidade e o mérito próprio da autora a questões exteriores à obra.
Tudo isto na verdade se passou numa fracção de segundo e foi insuficiente para vencer a inércia do gesto, que ia já a caminho de pousar o livro sobre o sexto volume de A Minha Luta e não se deteve.
Bem sei que ninguém das hostes siamesas do politicamente correcto e do politicamente incorrecto virá fiscalizar-me as estantes, mas não deixei de sentir algum alívio quando me apercebi que entre os Knausgård ficara afinal um outro nórdico, Knut Hamsun, cujo Fome tinha acabado de ler dias antes.

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* Bienvenidos a America, edição espanhola de Välkommen till Amerika

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