Na noite em que meio Portugal estava na sua terapia catártica com o Dr. Cave, dormitava ele sobre o livro no parque da cidade. No parque da sua cidade.
Nem sempre faz de propósito para desacertar o passo, há extravagâncias que vão ao seu encontro. Acontece que regressava a casa do trabalho, a noite ia avançada e apetecível e ele trazia o livro. À beira rio havia bancos iluminados, gorjeios de noitibó, uma impressão de quinta agustiniana no Douro e nem uma alma no horizonte. Sentou-se a ler e, como vem padecendo de insónias, ao fim de umas páginas adormeceu.
Se passaram por lá àquela hora, não era um hermeneuta talmúdico com o estudo em atraso nem um indigente a destilar o bagaço o que viram naquele banco. Era ele. Sóbrio como um carvalho centenário, ressonando como motosserra que o derrubasse.
Há talvez maneiras piores de comprometer a dignidade.
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