O comunismo soviético, é sabido, deixou em certas almas um sentimento de orfandade que perdura, mas deixou sobretudo uma visão distorcida, alucinada — artificial, em suma — de paraíso, como se naqueles anos tivesse sido distribuída uma droga cujos efeitos se transmitissem como cromossomas de geração em geração.
Poderíamos, sem erro histórico grosseiro, responder simetricamente ao comentário dizendo: «Se não fossem os Aliados, talvez os russos hoje falassem alemão.» Ou: «Se não fossem os Aliados, talvez hoje falássemos todos russo.» Ao que deveríamos acrescentar: «Isto, claro, se os nossos ascendentes tivessem sobrevivido aos gulags, às migrações forçadas, à fome planeada, às purgas, enfim, ao puro arbítrio sanguinário de um sociopata».
Mas de que adiantaria responder? No tempo congelado onde se dão certos debates, não se pode condenar o nazismo sem se estar lealmente do lado russo — nem se pode condenar um regime da Rússia (excepto talvez, mas já nem isso é certo, o de Nicolau II) sem que se esteja a confessar simpatias nazis.
Mas de que adiantaria responder? No tempo congelado onde se dão certos debates, não se pode condenar o nazismo sem se estar lealmente do lado russo — nem se pode condenar um regime da Rússia (excepto talvez, mas já nem isso é certo, o de Nicolau II) sem que se esteja a confessar simpatias nazis.
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