Leio Chuva Miúda de Luis Landero com uma insatisfação, ia dizer «indefinida», mas julgo que é concreta. A história, as personagens, o enredo são interessantes, mas a narrativa parece demasiado ligeira ou superficial para aquilo que o autor tem em mãos. É uma sensação que evoca a que tive ao ler Reviver o Passado em Brideshead, quando imaginei estar a folhear um digest. Este Chuva Miúda, que tem uma estrutura de diálogos curiosa, parece-me um esboço; enuncia os factos sem lhes explorar verdadeiramente a densidade, mas também não encontra a sua força literária no poder da sugestão.
Curiosamente, o livro e o autor são vivamente recomendados, com citação na capa, por Manuel Vilas, o autor dos maravilhosos Em Tudo Havia Beleza e E, de Repente, a Alegria, o que poderia fazer imaginar alguma afinidade estilística ou estética entre Landero e Vilas. Mas quando fecho um capítulo de Chuva Miúda não fica em mim nada de parecido com o que me deixou a prosa concisa e poética, a voz narrativa de Manuel Vilas, nada de tão comovente, lancinante ou arrebatador.
Há em Chuva Miúda, de todo o modo, acontecimentos e personagens capazes de fascínio e inquietação, mas para minerar isso neles parece-me que seria preciso alguém predisposto a enveredar longamente pelas curvas da vida e as circunvoluções da mente, alguém como Elena Ferrante ou Javier Marías. Landero parece ficar num meio-termo entre Manuel Vilas e aqueles dois corredores de fundo: uma narrativa abreviada mas sem o poder impressivo de Vilas; a amostra de um enredo e de caracteres que Ferrante ou Marías transformariam em ouro puro.
Em todo o caso, prosseguirei com leitura do livro, a ver se o autor logra afinal um efeito seu. E se isso acontecer será abusivo o que vou dizer agora, que este Chuva Miúda me fez pensar numa hesitação representativa de um tempo, ou antes, de um statu quo literário: uma hesitação que parece em simultâneo condescendência e confissão involuntária de falta de fôlego. Características de certos escritores, editores e leitores — de si para si e de uns para com os outros.
P.S.: Juntar Manuel Vilas e Javier Marías num post na altura em que sai o novo livro deste último — descrito (e bem) numa recensão como «explicativo, maximalista, detalhado» — poderia ser apenas uma coincidência, mas não é, é uma piscadela.
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