Na forma como cita parece revelar-se algo do carácter (ou da formação) de
um autor. Leio um ensaio onde as fontes francesas são citadas em francês e as
italianas, russas, alemãs e mesmo as anglo-saxónicas são-no em português
(quando não também em francês).
Talvez o autor tenha optado por citar as suas fontes na língua em que
as leu, é um critério. E, nesse caso, estamos perante um afrancesado, por
formação e/ou por afinidade cultural.
Com a minha mania de imaginar biografias, decidi tratar-se de um pavão
vaidoso do seu francesismo, do seu domínio da língua de Sartre. Como não tem
idade para ser um ex-expatriado ou para se ter formado no tempo em que quase
toda a gente em Portugal era culturalmente afrancesada, decido também que viveu
em França, nasceu ali, talvez filho de emigrantes orgulhosos da sua (dele)
carreira académica.
Assim tomado por esta animosidade ficcionalmente refocalizada, decido
que os livros citados no ensaio têm edições portuguesas, que o autor não aplica
às fontes francesas o critério que geralmente aplica às russas e às alemãs (citando-as
em português) por presunção, gosto ostentatório. E encontro então explicação
para a forma arrevesada como escreve o seu ensaio, num português engalanado e
hirto: é prosa de calça vincada e gola alta, ou enrolada num cachecol parisiense.
Não exactamente elegante — apenas afectada.
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