Carso é um planalto rochoso calcário que se estende do nordeste da Itália até ao extremo noroeste da Croácia, na Ístria, passando pela parte ocidental da Eslovénia. O território é rico em cavidades naturais, dada a solubilidade das rochas calcárias que o constituem. Ao longo dos séculos, e em particular nas várias guerras que no século XX envolveram a região, as muitas grutas, poços ou dolinas foram ali usadas como esconderijo de combatentes, local de julgamento e execução, depósito de cadáveres, consoante as necessidades, as circunstâncias ou os instintos. Várias delas permanecem, assinaladas ou não, como locais de memória, de dor ou de culto. Consoante as mágoas, os ressentimentos ou a nostalgia. Memoriais, lugares infames ou de glória. Em boa parte devido ao confronto — anda actual, pronto a recrudescer — de identidades, filiações, credos, obediências. Devido à delimitação de identidades em última instância solúveis como a rocha calcária. Em pó te hás-de tornar? A metáfora geológica é ali outra, mas também impotente contra narrativas nacionalistas ou tribais, de facção. O tempo profundo em que se mede a vida do planeta contém em si, como finos estratos geológicos, os breve mas contudo intermináveis e recorrentes instantes em que a humanidade age insanamente.
A história do Carso está presente em três obras admiráveis que, por coincidência, li quase sucessivamente nas últimas semanas: Mundo Subterrâneo, de Robert Macfarlane, Belladona, de Daša Drndić e Uma Causa Improcedente, de Claudio Magris (leitura em curso).
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