sábado, 30 de maio de 2020

O calcanhar de Aquiles de Pacheco

O ódio antigo de Pacheco Pereira à cultura contemporânea, que amalgama de forma voluntariamente ignorante e preconceituosa, é incompreensível e desolador em alguém estimável como ele.
O blogue Ouriq explica por que é infame o artigo que Pacheco escreveu hoje no Público:

«Os ignorantes filistinos e alguns dos muito cultos sofisticados que se dedicam à preservação do património cultural têm um ódio de estimação comum: os artistas contemporâneos. Os primeiros acham que a arte só deve vingar se tiver valor comercial e os segundos imaginam-na como um passatempo de aristocrata ou burguês endinheirado. Há uma regra que me parece muito válida: sempre que pessoas com características opostas estão de acordo relativamente a um tema que não é consensual, detectámos um caso complexo. A crónica de hoje de Pacheco Pereira é infame porque se percebe que o seu principal interesse não é ajudar os feirantes mas atacar os artistas, esses subsídiodependentes. Fazê-lo num momento de crise profunda, que se anuncia prolongada, e quando o ministério da cultura está nas mãos de alguém incapaz e sem peso político, foi uma verdadeira sacanice. Foi também bastante estúpido, porque muitos artistas contemporâneos dão trabalho a pessoas — penso nos roadies dos cantores, por exemplo — que, pela actividade precária, itinerante e sazonal, e ainda o desprestígio social, são tão "ignorados" e tão "invisíveis" como os feirantes que o cronista usa para atacar os artistas. "Mau trabalho", Pacheco, muito mau trabalho.»

Ouriq:
https://ouriquense.blogs.sapo.pt/tiro-aos-artistas-em-tempos-de-crise-924308

Artigo de Pacheco Pereira:
https://www.publico.pt/2020/05/30/opiniao/opiniao/ignorados-invisiveis-1918665

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