Para alguns bem-intencionados, a escrita alegadamente irónica
de Vasco cumpre hoje o papel das farpas de Eça de Queirós. Tem o mesmo espírito
endiabrado, o gosto de fustigar a nação. É certo que, como Eça, Vasco procura o
efeito e pretende ver o país por uma luneta. Mas o sátiro Eça elevava-se. O
sarcástico Vasco entrincheira-se. As suas frases têm o resultado, por vezes implícito mas
dificilmente involuntário, de defender posições conservadoras e cínicas.
Outros dizem que em certos aspectos a escrita de Vasco ressuma
anacronia como a de Eça. Talvez apenas porque Vasco, historiador, engalana
frequentemente a sua prosa punitiva com as casacas e as polainas da época. Mas
na verdade, apesar das recorrentes alusões a figuras e factos do século XIX, nem
o próprio Vasco pretende confundir-se com Eça, salvo na inconfessada ambição estética
de ser o irónico-mor da pátria. E de facto os dois autores não se confundem: a décalage de Eça, morto de um século, não nos
tolda o riso; já a pátina reaccionária do plumitivo Vasco, agora
redivivo, mendiga pena.
Sem comentários:
Enviar um comentário