A Chiado Editora tem uma Antologia de Poesia Contemporânea que reúne cerca de mil autores. Sim,
apenas mil. Julgávamos nós que Portugal era um país de poetas e a Chiado,
propondo-se antologiar a raça, não encontra mais de mil. Que ineficiência. Que
preguiça. Que falta de respeito pela veia pátria.
É certo que o excesso de escrúpulo teve as suas
vantagens: não há na antologia senão Homeros. O escasso número de autores assegura ao leitor o mesmo conforto que teve o organizador: em colectânea peneirada
com tal minúcia é virtualmente impossível encontrar um poema mau.
A opção elitista da editora tem naturalmente
desvantagens comerciais (o que dá uma certa nobreza abnegada à empresa, é de
reconhecer). Sabendo-se que os leitores portugueses, na hora de comprar, são
movidos sobretudo pela cumplicidade estética,
pela afectividade intelectual e pelos laços literários
que mantêm com os autores, está bom de ver que se venderão uns meros seis
ou sete milhares de exemplares da antologia quando se poderiam vender pelo
menos sessenta mil, se se multiplicasse por dez o número de antologiados.
Reflectindo, aliás, mais verosimilmente a contemporânea arcádia lusitana.
Dez mil poetas lusos* é o mínimo que uma antologia que se preze deve às letras
portuguesas.
* De longas barbas e de braço dado a cantar eurovisivamente,
à grega, “Good bye, my love, good bye”.
P.S.: Entre o Sono e o Sonho é o título da
antologia da Chiado Editora. Entre o sono dos leitores e o sonho delirante dos
autores, presumo.
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