sexta-feira, 11 de julho de 2014

Humans of New York and everywhere

‘Humans of New York’ é uma página de Facebook que quotidianamente publica fotografias de nova-iorquinos na rua adicionando-lhes pequenas histórias ou declarações das pessoas fotografadas. As citações são por vezes apenas curiosas, mas não raro são surpreendentes revelações de mágoas, traumas, fobias, ódios, tragédias e até crimes, mas também testemunhos de alegrias, sucessos, epifanias.
A página não é exactamente anónima (mais de 7 milhões de seguidores, número quase equivalente à população da cidade), pelo que é possível que muitas das confidências sejam forjadas. Mas como aquilo se passa em Nova Iorque, cidade com tanta e tão variada fauna, não custa acreditar que muitas das pessoas acedem verdadeiramente a que se lhe tire o retrato e roube a alma. Who cares?, dirão.
O exercício é voyeurista, mas não mais do que o dos escritores que bebem imperiais, taças de vinho ou, nos casos mais nobelizáveis, café e bagaço nas esplanadas e fingem compor poemas. Brandon, o autor da página, é apenas um pouco menos passivo e um pouco mais latoso do que o comum dos Pessoas.
Na verdade, a página é um catálogo de tipos e tópicos humanos. Um gajo que queira escrever um romance mas esteja sem tempo para ir para a rua fazer trabalho de campo pode limitar-se a colher do iPad as personagens e a base do enredo. Depois é só esconder a fonte e escolher um lugar à sombra no Parque Eduardo VII em Maio.
Eu próprio dei por mim a pensar uma ou outra vez que o assunto para mais um romance estava ao alcance de um clique (e com sorte o Brandon era suficientemente porreiro para ceder os direitos da foto para a capa). Contudo, os ladrões têm uma ética, como se sabe. Ladrão que rouba ladrão até pode ter cem anos de perdão, mas os melhores, os mais genuínos, preferem o picante e o correspondente Inferno de roubar as suas próprias histórias. Be aware.

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