É ilegítimo e vil usar aspectos físicos das pessoas para atacar as suas ideias ou
posições políticas. Ou para as defender. Na minha pós-adolescência ocorreu acusarem-me
de Júlio Isidro e simultaneamente piropearem-me
de James Dean. (Hoje fariam pior.) Mas
isso aconteceu, tanto para o mal como para o bem, porque na verdade ninguém, eu
incluído, sabia ou se interessava pelo que eu pensava. Apenas estava toda a
gente, de novo eu incluído, fascinada (como no circo) pelos diferentes ângulos
da minha fotogenia: de frente para o James; de lado para o Júlio (nunca
subestimem o poder afrodisíaco de um nariz).
Mas deixemos Narciso no seu lago. Se tivermos nobreza de princípios e
intenções, será deveras impróprio e torpe lembrar o quanto Henrique Raposo, naquela
sua foto de míope, se parece com um oficial das SS ou com um agente da Gestapo.
O exercício é contudo legítimo se reconhecermos ao alvo dos nossos insultos uma
inteligência capaz. Precisamente porque sabemos que Raposo não ignora as
circunstâncias, as conotações e a vanidade de muitos dos seus artigozinhos irreverentes e caprichosos do Expresso, podemos, se formos igualmente
mesquinhos, responder-lhe com um «Heil Hitler para ti também». Ou, pronto, não
exageremos, o caso não é assim tão teutónico. Raposo talvez apenas se pareça
com um mangas-de-alpaca doutrinário, uma espécie de primito lisboeta e envernizado
do homem de Santa Comba, para quem basta um simples e nacional manguito das
caldas. E se o caso for menos grave ainda — Raposo enquanto mero delfim de
César das Neves, invejoso do sucesso daquele no anedotário luso (que não da
avença, imagino que o Expresso pague
mais) —, até podemos
achar o Henrique boa companhia para um copo. Quem não gosta de partilhar a mesa
com um tipo mesmo de direita? Eu
gosto, e o único amigo que tinha capaz de achar que a culpa da crise era dos gajos
do rendimento mínimo vacilou nas convicções quando o Governo lhe foi ao bolso e
o deixou mal equilibrado às portas do desemprego. Sinto por isso falta de
alguém a quem possa pagar com gosto umas rodadas enquanto digo: o que bebes,
nazi do caralho?
o que temos mais é gente triste com tempo de antena nos jornais, rádios e televisão.
ResponderEliminare não deixa de ser curioso, o que dizes, Rui, de todos aqueles gajos que sempre olharam de alto para baixo para o povo, quem nunca tinham feito uma greve, até que o Passos percebeu que também tinha de lhes ir ao bolso, as migalhas que levava dos pobres não chegavam...
e agora quase que parecem revolucionários.
É verdade. Os mais defensores da austeridade são os que menos sofrem com ela, claro. Ou os que mais ganham. Isto é tão descarado e óbvio que só podem achar que somos todos parvos.
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