Uma jovem mãe percorre as prateleiras do supermercado com o telemóvel
na orelha. Procura um gel para o cabelo e percebe-se que, com branda resistência,
está a ser dirigida remotamente pelo filho adolescente. Efeito molhado, fixação
normal, forte ou extraforte, marcas, preços... As variáveis são muitas e é
difícil encontrar um equilíbrio entre a exigência do rapaz e a carteira da mãe.
Não parece aborrecida com os caprichos do filho, talvez porque já teve
ou testemunhou experiências piores. Protagonizadas por teenagers maldispostos, rudes, rufiões, que acompanham as mães às
lojas como quem sequestra um desconhecido e o leva sob coacção ao multibanco mais
próximo. Filhos que mandam calar as progenitoras e cospem em público ninguém te perguntou a opinião como
bandidos sem paciência para as objecções patéticas e impertinentes das suas
vítimas. E que, depois de escolherem algo da última moda para gangues (que um
diligente criativo desenhou a pensar na globalização do Bronx), arrastam com
maus modos a mãe para a caixa, deixando já adivinhar que à saída da loja
atirarão com ela e a sua carteira vazia para uma valeta.
A mãe no supermercado fica por momentos esquecida a olhar carinhosamente
a filha, talvez para afastar maus pensamentos. A rapariga, criança, entretém-se
na secção de produtos para o rosto — não ainda a projectar-se na adolescência
que tarda, mas porque as cores e as formas lhe parecem divertidas.
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