O amigo chegou, encomendou a sandes e a mini ao balcão e virou-se para
a TV, onde passava um jogo de campeonato estrangeiro. O outro, quando se deu
conta, arrastou-se lá do fundo e, depois do cumprimento, atirou:
— O árbitro está a ser tendencioso a favor dos azuis.
O tom era neutro, indiferente, de quem invoca as condições climatéricas
para início de conversa.
Reflectindo nas palavras, fiquei na dúvida se aquela observação de circunstância
significava que:
a) É possível dedicar-se uma atenção mecânica mas minuciosa a um jogo de
futebol mesmo que se desconheça os clubes ou eles não sejam suficientemente importantes
para merecerem ser fixados;
b) A parcialidade da arbitragem ou a crença de que há parcialidade na
arbitragem são tão inerentes aos jogos quanto a rotundidade da bola;
c) Os rituais de desculpabilização e a hermenêutica televisiva mudaram
o foco do jogo para a incidentalidade.
d) O autor da observação era um irredimível benfiquista.
Mas, pensando bem, talvez fosse apenas verdade que o árbitro estava a ser tendencioso
a favor dos estrunfes.
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