«Mansfield Park é seguramente a obra mais controversa e menos amada pelos apreciadores da escrita de Jane Austen. (…) Por estas e outras razões, Mansfield Park (…) é um romance complexo e de alguma forma estranho para os leitores assíduos de Jane Austen.»
As frases anteriores
abrem e fecham, respectivamente, a sinopse da edição de Mansfield Park pela
Book.it. Quando a editora do grupo Sonae decidiu publicar o livro, fê-lo
naturalmente achando que «Jane Austen permanece até hoje como uma das mais
lidas e amadas romancistas de língua inglesa de sempre», como afirma na badana.
Mas na hora de escolher uma sinopse para a contracapa, uma de duas coisas
aconteceu:
i) o editor
foi a net e traduziu sem ler ou perceber o primeiro trecho que encontrou a
falar sobre o livro;
ii) o editor
estava chateado com a ideias de Belmiro de Azevedo quanto ao que é um ordenado
e resolveu, por vingança, espantar os leitores previsíveis do romance. É bom
ver um indignado em acção onde menos se espera.
Claro que o
textito pode atrair um outro tipo de clientela. Gente que não aprecia Jane
Austen. Ou gente que, distraída, se entusiasme com a possibilidade de aquele
ser um romance complexo. Mas desconfio que, para os padrões de Belmiro, estas
vendas não chegarão para eleger o editor como funcionário do mês na Sonae.
Também não é
seguro que a exportação seja uma saída. Afirmar na ficha técnica que «Este
livro foi escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico» dificilmente convencerá
o público brasileiro de que Jane Austen é um potencial novo Prémio Portugal Telecom.
Talvez por
isso os meus amigos o tenham comprado por um euro.