No tempo que levamos de pandemia, também dediquei algumas madrugadas a ver snooker, mas por alguma razão ainda não me tinha ocorrido escrever nada sobre o assunto. Talvez porque não encontrei um Wawrinka que me pudesse servir de herói trágico (ver post anterior).
As emoções num frame de snooker têm de ser procuradas, não nos gestos ou nas expressões dos jogadores — contidos os primeiros e limitadas a um franzir de nariz as segundas —, mas no próprio jogo, na geometria das jogadas e na subtil eloquência das tacadas.
Os profissionais da modalidade, com a excepção ocasional do impulsivo Ronnie O’Sullivan, encarnam o espírito fleumático dos oficiais britânicos que primeiro a jogaram, no século XIX, pelo que por vezes só nas tabelas de resultados encontramos a grandiloquência das grandes vitórias e derrotas.
Um dos campeões actuais chama-se Trump e a sua expressividade está nos antípodas do histrionismo do homónimo ex-presidente americano: a sua celebração de uma vitória é tão enfática quanto o agradecimento cortês que alguém mostra ao garçon que lhe serve o habitual café pós-prandial.
Uma final de snooker não convida à mesma euforia de outros desportos. Após o último frame, seguimos o exemplo dos próprios jogadores e despedimo-nos da televisão cavalheirescamente, com um breve aceno de cabeça, sem que chegue a materializar-se o ímpeto de escrever sobre o jogo. Guardamos o guarda-chuva e o chapéu no bengaleiro da entrada e recolhemo-nos ordeiramente ao bedroom.
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