sábado, 15 de agosto de 2020

Himmler não entra

Um misantropo é capaz de compreender que não se goste de pessoas, porque ao fim e ao cabo ele próprio não as tem em grande estima. Um pessimista antropológico (ou, se quisermos, um realista que consulte as tiragens dos jornais, as audiências das televisões, as listas de livros mais vendidos e a opinião comum nas redes sociais) receia com bons motivos o advento da democracia directa e pergunta-se, como o misantropo, para quando as viagens a Marte.

Mas um pessimista antropológico apenas advoga formas de governo que não caiam na ilusão de Rousseau, que tenham em conta o egoísmo e a intrínseca ruindade humana. E um misantropo, a não ser que tenha perdido qualquer réstia de empatia, foge da sociedade, não integra einsatzgruppen.

Quem reúna as qualidades acima e um módico de inteligência jamais compreenderá a perversão que é alguém antipatizar com um grupo específico de pessoas; jamais entenderá que se deteste pessoas, não por atacado, mas com base em características étnicas, sexuais ou simpatias políticas.

Para se chegar ao desvio psicológico da aversão selectiva não basta ser misantropo ou pessimista antropológico. É preciso ter enveredado pelos caminhos do preconceito, do sectarismo, da xenofobia e do racismo. Que implicam interacção, e de um tipo ainda mais desprezível.

Como não estou aqui para aliviar consciências, devo dizer àqueles dos meus amigos que se estão a deixar dominar por este páthos, confundidos na década e no século, que façam o favor de fechar a porta à saída. No exclusivo clube dos misantropos e pessimistas antropológicos não aceitamos transtornos de personalidade. Isso é lá no Observador e parece que no PSD.

2 comentários:

  1. Se há coisa boa dos tempos actuais é exporem os racistas e reaccionários. Muitos estavam no armário e agora é vê-los a soltarem a franga. Ao menos sabemos com o que contar.

    É sempre um prazer vir até aqui lê-lo.

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  2. O prazer é todo meu. ;) Obrigado.

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