segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Ondas fundidas

O leitor de CDs do Chevrolet avariou há uns meses deixando-me refém das estações de rádio quando o silêncio se me torna perigoso por ir a conduzir demasiado desperto. Hoje a Antena 3 estava mais chata do que o habitual, com uma playlist que era uma egotrip de um apresentador qualquer. Mas só fui tentar a Antena 3 depois de passar sem ficar pela M80 (esse pecadilho geracional) porque a Antena 2 estava com uma intromissão. A meio de uma sinfonia simpática tinha começado a ouvir vozes. De início julguei que eram as vozes da minha cabeça a interferir com as ondas de rádio, mas notei que aquelas vozes tinham uma conversa um pouco mais cordial do que as minhas.
Algumas experiências de sintonização mais tarde, descobri que na zona do país em que circulava a Antena 2 e a Antena 1 estavam a partilhar a mesma frequência. Alguém no Lumiar ou lá onde é trocara inadvertidamente os fios ou carregara no botão errado, pensei. Mas no regresso, um par de horas depois, o problema persistia e agora era já o futebol que disputava as ondas com uma agudíssima soprano.
Demasiado pessimista para acreditar em conspirações benignas, nem por um momento imaginei, romanticamente, que alguém estava a boicotar o futebol com ópera. Não. Concluí logo que se tratava de uma acção pouco subtil para acabar com a alternativa clássica em favor do desporto único. Por estes dias já não há desaforos interditos para os sabotadores da civilização.

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