Auschwitz e Birkenau não deviam ser visitados de Verão. O
Agosto polaco é demasiado benévolo, a paisagem verde demasiado bucólica, a
arquitectura demasiado harmoniosa (perdoem-me a observação) e as pessoas,
animadas pelo bom tempo, demasiado gentis para que possamos sentir na pele, nas
entranhas, a experiência extrema e terrível da vida num campo de extermínio
nazi.
A boa prestação da guia, assertiva no relato histórico e na
sugestão de que ele nos deve manter em alerta permanente, não chega a arrepiar profundamente
os visitantes, decerto condoídos mas temo que não muito mais do que o estariam
se visitassem uma masmorra da Inquisição, essa entidade velha de séculos e
anacrónica como calças à boca-de-sino, que ninguém acredita que voltem.
A escala desmesurada de Birkenau lá arranca os seus
murmúrios de espanto, mas julgo que os turistas do Holocausto apenas
interiorizariam a experiência se tivessem de se enterrar nas lamas do Outono ou
da Primavera ou de bater os dentes nas neves de Dezembro. Num Agosto assim, receio
que a visita a Auschwitz e Birkenau, com as suas latrinas limpas e a refulgente
cerâmica dos fogões de aquecimento, se pareça a uma visita aos jardins do castelo de
Drácula.
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