sábado, 1 de setembro de 2018

Auschwitz e Birkenau ou o castelo de Drácula


Auschwitz e Birkenau não deviam ser visitados de Verão. O Agosto polaco é demasiado benévolo, a paisagem verde demasiado bucólica, a arquitectura demasiado harmoniosa (perdoem-me a observação) e as pessoas, animadas pelo bom tempo, demasiado gentis para que possamos sentir na pele, nas entranhas, a experiência extrema e terrível da vida num campo de extermínio nazi.

A boa prestação da guia, assertiva no relato histórico e na sugestão de que ele nos deve manter em alerta permanente, não chega a arrepiar profundamente os visitantes, decerto condoídos mas temo que não muito mais do que o estariam se visitassem uma masmorra da Inquisição, essa entidade velha de séculos e anacrónica como calças à boca-de-sino, que ninguém acredita que voltem.

A escala desmesurada de Birkenau lá arranca os seus murmúrios de espanto, mas julgo que os turistas do Holocausto apenas interiorizariam a experiência se tivessem de se enterrar nas lamas do Outono ou da Primavera ou de bater os dentes nas neves de Dezembro. Num Agosto assim, receio que a visita a Auschwitz e Birkenau, com as suas latrinas limpas e a refulgente cerâmica dos fogões de aquecimento, se pareça a uma visita aos jardins do castelo de Drácula.

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