sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Oświęcim

A ideia de pernoitar em Oświęcim* não é cara à maioria dos que visitam a Polónia. A cidadezinha, tirando o que se poderia chamar de atractivo macabro dos campos de Auschwitz e Birkenau, não parece ter outros predicados. Além disso, os guias publicados, as agências internacionais de viagens e os postos de informações no país sugerem em regra um tour directo, com autocarro de ida e volta, a partir de Cracóvia, cidade turística por excelência. O acesso por comboio regional não é difícil nem desconfortável (observação que, bem sei, resulta frívola no contexto), mas os polacos, os guias e as agências desconhecem ou desaconselham.  

Auschwitz constitui assim um dos vários programas da oferta de Cracóvia, a par das montanhas de Zakopane, da descida às minas de sal, do rafting no Dunajec, do crazy tour à cidade satélite comunista de Nowa Huta. Insere-se na rubrica «o que fazer» quando se está em Cracóvia à espera de dicas. Visita-se como se visita mais um castelo, com as suas próprias masmorras e histórias de tortura. Os turistas, quando têm a informação, a idade ou o carácter suficientes, lá adoptam ao sair do autocarro a devida expressão circunspecta, como quando visitam sem quererem parecer desrespeitosos um templo de outra religião. Se lhes pedissem, descalçar-se-iam ou cobririam a cabeça, mas muitos ficariam aborrecidos se não pudessem fotografar. No final das férias terão disponível para os amigos um relato da visita, intercalado em histórias de refeições deliciosas ou horríveis, dificuldades do câmbio monetário, noites em bares e picardias sobre os polacos e as polacas.

Não é portanto prevista ou sugerida uma estadia em Oświęcim (embora a cidade tenha vários hotéis, e um deles, o Hampton by Hilton, fique mesmo na entrada do pequeno centro histórico). Presumo que ninguém queira que os turistas se aborreçam a cismar numa pacata cidade a braços com a sua ocupação nazi e os seus blocos de habitação comunistas quando há tanta coisa excitante para fazer no resto da Polónia.

* Lê-se mais ou menos «óche-vién-tchim», daí «Auschwitz» em alemão.

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