De que serve ter-se arquitectado dois posts e um trabalho académico se ao pôr-se o sol na varanda a
sensação é a de que se perdeu um dia de vida? Pelo menos um dia de Primavera,
desses raros ensolarados e amenos. Não, a literatura só é útil quando podemos
dela desfrutar encostados a uma árvore ou rocha, respirando o ar puro dos
montes nordestinos ou da falsa planície alentejana, ouvindo o murmúrio de um
ribeiro ou o incessante restolhar de uma cascata, a conversa cíclica da
beira-mar. É-se escritor de Inverno, por necessidade, ausência de sol e
alternativas. Mas o que se deseja é o Verão interminável e a possibilidade de se
ser apenas leitor. Tirania é ter de trabalhar seja de que forma for quando
chega Maio. E despotismo é que depois de Setembro nos imponham Outubro e os
meses tenebrosos.
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