Há Wagner há duzentos anos, é claro, e toda uma galeria de compositores
antes e depois dele. Mas, embora ame e rejubile com a música clássica (ou
erudita ou o que quiserem), temo ser demasiado plebeu para encarnar um
verdadeiro amante do género. E talvez a pop seja uma sina dos que formam o
carácter nos anos oitenta do século XX.
Nunca nenhum disco tocou tanto nas minhas orelhas
como Snow Borne Sorrow, dos Nine Horses
(David Sylvian). Há certamente aberturas mais respeitáveis nos anais da música,
mas o falso optimismo ou alegria melancólica de “Wonderful World”, primeiro
tema do álbum, é que põe os altifalantes do Chevrolet a vibrar, dando um
sentido ao Inverno ou, se nos permitirmos certa indulgência, um slogan à Primavera.
E depois há o terceiro tema, com o contrabaixo a
marcar-nos a pulsação — cujo título, “The Banality of Evil”, nos pode afinal remeter
para Bayreuth.
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