Em tempos melhores do que este, até poderíamos defender a autora na
parte que diz respeito à educação dos seus filhos. Ela é acusada de não os
saber educar e essa acusação é injusta. A maioria dos que a acusam (apegando-se
à irrelevante fábula que ela escreveu em vez de à moral da história nela implícita)
não pode reivindicar para si mesma um trabalho melhor do que o dela. Se o
pudesse, o mundo adolescente não era a barbárie fútil e assustadora que sabemos
ser esmagadoramente.
Os problemas da farsa de Inês Pereira são outros, os que referi.
A inoportunidade. Por mais críticas que haja a fazer ao socialismo (ou
melhor, ao PS, não temos de partilhar do preconceito da senhora quanto à
ideologia), parece um anacronismo ou uma desfaçatez insistir no exercício depois
de dois anos de despautério PSD/CDS. No mínimo, a incompetência e a vilania de
Passos e Portas deveriam moderar-lhe o discurso.
O maniqueísmo. No universo a preto e branco da senhora Teotónio Pereira
o adolescente típico que ela no fundo descreve é “socialista” porque ela odeia o socialismo. Mas na verdade,
não só são também assim “socialistas” os adolescentes PP e PSD como o têm
igualmente sido os políticos desses dois partidos.
O problema português foi (e é) comportamental (e transversal) e a
senhora quer fazer-nos crer que é ideológico. Que os defeitos não são de
carácter mas de filiação partidária. Que não foram a corrupção, o nepotismo, a
irresponsabilidade, o oportunismo e outros vícios da índole lusa a trazer-nos
aqui, mas as convicções políticas de alguns. Que se a ideia de Passos de
criminalizar os governantes nocivos fosse avante se deveriam prender todos os
que professam o socialismo, não os que cometeram crimes ou esbanjaram dinheiro.
No fundo, Inês Teotónio Pereira quer que a esquerda seja não uma posição política,
mas um estigma social, talvez o cadastro policial de uma agremiação criminosa.
Na sua concepção maniqueísta do mundo, Inês Teotónio Pereira não se
coíbe de implicitamente defender que do outro lado da barricada, do seu lado,
as pessoas são justas por natureza, e se têm dinheiro é porque é delas por
direito. O seu penúltimo parágrafo é uma defesa pungente desta ideia. Reparem
que não há lugar no argumentário da senhora para questionar quem tem o
dinheiro. Os socialistas são quem arruína as nações. Os ricos, se têm o que
têm, foi porque, justa e impolutamente, o mereceram. É feio invejá-los.
Proibido questioná-los. E isso que ela diz aos seus filhos e ao país.
as famílias do Estado Novo pensam assim, passados estes anos todos, acham mesmo que são "iluminadas" (claro que eu acho que fingem...).
ResponderEliminare sonham com o regresso. pudera...
infelizmente estes governantes estão a esforçar-se para que isso aconteça, mas acho que é impossível voltar a acontecer o que aconteceu de 1926 a 1974, em que o país pertencia a meia-dúzia de famílias.