Tal resistência semântica poderia ser ilustrada com o gesto enfadado de um flanêur que brande a sua luva flácida para afastar moscas ou caracterizada como um receio instintivo ou patológico de self-fulfilling prophecies. Traduzindo, havia quem não estivesse para se incomodar com ninharias e quem sufocasse por reflexo certas palavras temendo que a sua verbalização as pudesse tornar realidade.
Seja como for, na ânsia de negar que a história se estava a repetir, demasiada gente andou (e anda) de facto a replicar os erros dos anos 20 e 30 do século XX que Paul Mason cataloga no seu “Como Travar o Fascismo” (Objectiva, 2022).
Certos capítulos do livro ecoam na minha cabeça quando leio que Paulo Portas excitou a audiência definindo como adversária da AD «a nova ameaça vermelha da “geringonça 2.0”» e quando vejo o PCP sobretudo ocupado, aparentemente, a saltar fora de uma geringonça 2.0.
Hitler e Mussolini poderiam sentir-se insultados se alguém propusesse que o nosso Dr. Sapo de Loiça os está a emular, mas teriam de se lembrar de que, apesar de melhor talhados para as artes dramáticas, também eles foram objecto de anedota antes de serem caudilhos bem-sucedidos.
Todavia, os comunistas e outras esquerdas alemãs e italianas cometeram a certa altura o erro de insistir em velhos adversários, deixando campo aberto para o novo inimigo — e as anedotas sobre Hitler e Mussolini deixaram de ter piada.
Confio, como exercício de retórica, que em Portugal já todos saibam quem é o inimigo e comecem a abandonar o medo do ridículo e das palavras (e a velha indolência burguesa) para encher as ruas e as urnas de democracia antes que elas se encham de ressentidos e arrivistas.
Mas quero em particular confiar que o PCP está atento ao enredo da História. Posso lastimar, entre outras coisas, a forma como aquele partido tem lidado com a invasão russa da Ucrânia, mas sei que, se tudo falhar, os comunistas vão ser os primeiros na rua a enfrentar a punho as falanges de arruaceiros fascistas que não tardarão a saltar da toca. Até porque, serão dos primeiros alvos. Quando nada mais resta, é bom que a democracia tenha uma guarda pretoriana, imperfeita que seja.
Seja como for, na ânsia de negar que a história se estava a repetir, demasiada gente andou (e anda) de facto a replicar os erros dos anos 20 e 30 do século XX que Paul Mason cataloga no seu “Como Travar o Fascismo” (Objectiva, 2022).
Certos capítulos do livro ecoam na minha cabeça quando leio que Paulo Portas excitou a audiência definindo como adversária da AD «a nova ameaça vermelha da “geringonça 2.0”» e quando vejo o PCP sobretudo ocupado, aparentemente, a saltar fora de uma geringonça 2.0.
Hitler e Mussolini poderiam sentir-se insultados se alguém propusesse que o nosso Dr. Sapo de Loiça os está a emular, mas teriam de se lembrar de que, apesar de melhor talhados para as artes dramáticas, também eles foram objecto de anedota antes de serem caudilhos bem-sucedidos.
Todavia, os comunistas e outras esquerdas alemãs e italianas cometeram a certa altura o erro de insistir em velhos adversários, deixando campo aberto para o novo inimigo — e as anedotas sobre Hitler e Mussolini deixaram de ter piada.
Confio, como exercício de retórica, que em Portugal já todos saibam quem é o inimigo e comecem a abandonar o medo do ridículo e das palavras (e a velha indolência burguesa) para encher as ruas e as urnas de democracia antes que elas se encham de ressentidos e arrivistas.
Mas quero em particular confiar que o PCP está atento ao enredo da História. Posso lastimar, entre outras coisas, a forma como aquele partido tem lidado com a invasão russa da Ucrânia, mas sei que, se tudo falhar, os comunistas vão ser os primeiros na rua a enfrentar a punho as falanges de arruaceiros fascistas que não tardarão a saltar da toca. Até porque, serão dos primeiros alvos. Quando nada mais resta, é bom que a democracia tenha uma guarda pretoriana, imperfeita que seja.
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