Estou tranquilamente a viver acima das minhas posses no Vintage do Pinhão quando em baixo, junto ao rio, passa um grupo de rapazes levando música no telemóvel em volume que há trinta anos apenas se conseguia carregando ao ombro um armário estereofónico. A música também é herdeira do mesmo género rap sem causa ou gangsta rap ou quejando. Passam lentos e exasperantes como uma procissão, ou como o soprador de folhas de árvores nas madrugadas urbanas e insones de Outono, antes que consiga retomar a leitura e a vida silenciosa de rico.
Mais tarde, regressava já a casa e à classe média baixa, vi-os a caminhar enfileirados na berma da estrada e esfreguei vingativamente o volante. Quando os alcancei, abri a janela do carro e atirei-lhes para cima, ufana e estentórea, uma ária da ópera que ia a ouvir.
Confio que lhes tenha doído.
Dantes o rádio de pilhas salvava-nos.Ou a Emissora Nacional programa 2 ou os Emissores Associados de Lisboa.
ResponderEliminarCabia na palma da mão como o telemóvel.