Apesar do nome, Salvador Sobral não vem redimir anos de
indigência televisiva. Mas, ah, sabe bem esta pausa na nacional e proverbial
pimbalhice! A estratégia de Nuno Artur Silva (de que já aqui falei) foi recompensada
e veio relembrar a condescendência, a indiferença, o niilismo ou a cobardia de
sucessivas direcções editoriais das televisões, pública e privadas. Sim, a
popularidade é possível por outras vias.
A ironia de sempre é que as televisões são por natureza máquinas de popularizar e, quando, inseguras,
incompetentes ou cínicas, baixam a sua bitola ao nível da miséria intelectual,
popularizam lixo. Décadas de irresponsabilidade institucional fizerem crer que a
única forma de comunicar esteticamente com as massas era através da mediocracia
artística. Mas eis que o país, um país maior do que as habituais bolsas de
resistência cultural, se mostra capaz de apreciar e amar uma boa canção, mais devedora
ao jazz do que à fórmula habitual de encher as insuportáveis e itinerantes chouriças
de sábados e domingos à tarde.
Ainda não será desta que as populações se revoltam contra a
imagem que a televisão faz delas, mas talvez fique um pouco mais evidente que
aquela imagem é, antes de mais, o espelho de quem faz televisão.
Sem comentários:
Enviar um comentário