Um tipo sente-se por momentos reconciliado com o país quando descobre que venceu o Festival RTP uma canção bonita.
A RTP (ou o Nuno Artur Silva por ela) teve a melhor ideia em décadas: convidar para o seu festival alguns dos mais interessantes compositores de canções da banda sonora lusa neste século. Parece-me que foi um dos primeiros gestos de coragem contra a hegemonia e o proselitismo pimba que têm dominado o panorama televisivo, RTP incluída. E só nos pode deixar felizes que o júri e uma boa parte do público tenham escolhido uma canção que despertara indignação nas redes sociais e nos tablóides por não ser “festivaleira” nem o cliché que tradicionalmente se espera. Por uma vez, foi ignorada a tirania da “opinião pública” precipitadamente deduzida das estatísticas dos likes, emoticons e verborreia de caixa de comentários. Por uma vez, o bom gosto venceu.
Ainda não consigo: há o sacana do karma; uma pessoa diz, a medo, Festival RTP da canção, e a boca fica em chaga. E ouve logo abstractamente um mau alinhamento, como um tinnitus.
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