Há três anos havia lua cheia e Dhafer Youssef actuava em Sines (lembras-te?).
Nós estávamos no mesmo paralelo, mas não mesmo mesmo meridiano — e contudo
parámos o carro na berma alentejana, saímos para o calor da noite com o rádio
no máximo e dançámos no alcatrão, inquietando a bicheza que esbugalhava um olho
de cada vez nos prumos das cercas ao redor. Apesar da proximidade mediterrânica
e do Sete Sóis, Sete Luas, que também já visitáramos e havíamos de visitar, não
nos ocorria exactamente a celebração de um melting
pot musical ou cultural, pensávamos apenas no prazer de ser Verão e estarmos
vivos a Sul. Mas calhava de Youssef — o tunisino, o francês, às vezes vienense,
o terráqueo, em suma — ser versado na Teoria das Cordas e explicar o Universo
dedilhando o seu oud ou tensionando incrivelmente
as fibras da laringe. Por isso havia Harmonia e o jazz era o seu esperanto — e
nós estávamos afinal sintonizados com o Cosmos, reconciliados com a espécie. Tínhamos
bebido um copo ou outro, é certo.
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