A zaragata juvenil da madrugada tem início quando, no seio de um grupo de pândegos, um tipo começa a bravejar com uma rapariga, insultando-a. Como ela se afasta com duas ou três pessoas mas hesita em ir embora e responde à distância e à letra, o tom dele passa a ser de ameaça e tem lugar então a habitual dança de avanços e recuos, contida por outros elementos do grupo. A certa altura da altercação, talvez querendo mostrar galhardamente que não bate em senhoras mas demasiado irado para deixar passar o caso, o vociferante recorre a uma fórmula indirecta, em que deposita as esperanças simultâneas de se vingar e ser ilibado de falta de cavalheirismo: «Eu fodo-te, pá. Vais levar nesses cornos de duas ou três gajas, podes contar com isso.»
Talvez o amigo que a seguir lhe fez uma placagem tecnicamente perfeita, quando, já livre de peias morais ou cuidados de género, o touro enraivecido resolveu investir a todo o galope contra um dos acompanhantes da sua inimiga — um tipo impávido, silencioso e com ar um pouco efeminado, que ouviu sem se mexer o anúncio «Mas tu vais levar já!» —, talvez esse amigo ágil e moderador lhe tivesse dito que o cavalheiro, ao optar para a sua vingança diferida por um número plural de instrumentos, vulgo interpostas gajas, não se livraria de uma acusação de cobardia, porque a contenda terminou por ali.
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