Depois de entrar no bar de praia descubro que a barreira de areia, construída em semi-círculo no lado do mar para resistir às ondas tempestuosas do Inverno, tapa toda a vista oceânica deixando apenas para ver uma faixa de céu azul e branco de Dezembro. Sentar-me de frente para as fachadas sem graça de uma cidade costeira portuguesa não é alternativa, mesmo que na verdade tenha entrado ali para ler. É que haverá pausas entre parágrafos ou capítulos e o bar está de momento vazio, não providencia fauna que observar. Numa colina de areia, mesmo que apenas utilitária como uma paliçada, é ainda possível ver as dunas do Saara ou, na sua constituição irregular e no jogo de sombras alpino do seu dorso, uma cordilheira com vales sombrios e vertentes iluminadas e desfiladeiros, gargantas e canyons, imaginando territórios desconhecidos para lá dos cumes. Na frente marítima de uma cidade portuguesa não sobram geralmente fachadas antigas que ofereçam mistério e histórias, tudo é banal, previsível e feio, com reminiscências de famílias furiosamente à procura de lugar de estacionamento ou grupos mastigando festivamente o peixe e o marisco rituais nas pausas de grelharem a própria pele ao sol.
Sento-me e não sei afinal se de frente para a areia se de costas para a cidade.
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