terça-feira, 27 de março de 2012
terça-feira, 20 de março de 2012
O bom senso que falta
«A economia engana-nos. Promete-nos a felicidade, mas as pessoas não são felizes. É preciso, antes de mais, trabalhar menos. É estúpido trabalhar cada vez mais, para produzir cada vez mais, para desperdiçar cada vez mais. É preciso acabar com este massacre: produzir menos, porque não é necessário produzir cada vez mais, trabalhar menos e se trabalharmos menos as pessoas podem trabalhar todas e ter tempo livre. »
(...)
Sente-se um profeta?
De modo nenhum. Sou um homem normal. Fico sobretudo surpreendido que nem todos pensem como eu, porque me parece que tenho bom senso.»
(...)
Sente-se um profeta?
De modo nenhum. Sou um homem normal. Fico sobretudo surpreendido que nem todos pensem como eu, porque me parece que tenho bom senso.»
Gangues
«Actos de vandalismo atingem familiares de dirigente do PND-madeira.»
Há quem tenha concepções destas de democracia. Não é só na Madeira. A complacência dos "partidos do arco governativo" (e a nossa complacência) ainda nos há-de de sair cara.
Há quem tenha concepções destas de democracia. Não é só na Madeira. A complacência dos "partidos do arco governativo" (e a nossa complacência) ainda nos há-de de sair cara.
sexta-feira, 16 de março de 2012
sexta-feira, 9 de março de 2012
O tempo e a prosa
Leio alguém dizer que aprecia uma determinada escrita sem
malabarismos nem instintos barrocos e lembro-me que isso é um sentimento comum
a muita gente, incluindo críticos e editores. Talvez por isso a D. Quixote
tenha desistido de Javier Marías a um terço de O Teu Rosto Amanhã e ainda nenhuma outra editora tenha retomado o
fio à meada, ou saltado para Los
Enamoramientos. Não que Marías tenha exactamente uma escrita barroca ou uma
carreira no circo, mas as suas frases longas, a procura em directo da palavra
certa, por tentativas, ou a busca da melhor definição por soma de ideias,
acumular de proposições ou conjecturas, o diálogo tenso entre opostos, a
exploração de condicionais ou possibilidades, o arsenal que usa não para
conseguir dizer tudo e roubar espaço à sugestão mas para concluir que o inefável
e a dúvida permanecem, permanecem a insatisfação e a incerteza — mesmo que os
dissequemos com minúcia forense à mesa de autópsias —, as suas frases longas, dizia, e a sua escrita elegante mas complexa, são talvez um estorvo no mercado português.
O tempo não está para longas dissertações a propósito de um
biscoito, prefere videntes mais assertivos e breves. Talvez este tempo creia
que a vida é simples, definível em três frases curtas; que alguns substantivos
e um par de verbos explicam as pessoas, todas as pessoas, e as acções, todas as acções; que os dicionários devem
fazer fitness até se tornarem léxicos
escanzelados de passarela, sem carne nem substância nem multiplicidade. Talvez não vivamos todos
no mesmo tempo.
quinta-feira, 1 de março de 2012
Serviço cívico obrigatório
Imagine que é proprietário de um edifício no Porto e que um street artist dotado lhe decora aquela fachada
que você ia ter de mandar pintar mais dia, menos dia. O seu entusiasmo com a
obra e o alívio financeiro doravante vão durar-lhe pouco. A Câmara tem uma
proposta de higiene pública que, entre outras medidas, pretende mobilizar os
proprietários para um movimento cívico sem precedentes. Quando digo mobilizar não estou a falar de apelos, incentivos,
sensibilizações. A coisa tem as suas reminiscências militares, é um
recrutamento compulsivo, é serviço cívico
obrigatório. Se a sua fachada é grafitada, logo terá um fiscal à perna a
exigir-lhe uma de duas coisas: que apresente uma queixa-crime contra o vândalo
ou o artista (quando identificados) ou proceda de imediato à remoção do graffito. A terceira via é pagar uma
multa de 400 a mil euros.
Com Rui Rio não se brinca, ou as pessoas exercem voluntariamente, digamos assim, os seus deveres cívicos ou pagam
multa. Não é chantagem — é pedagogia. Não é coerção — é um convite irrecusável ao
uso do livre-arbítrio. No sentido certo.
De resto, atendendo ao historial do Presidente da Câmara, é de supor
que não adianta você desculpar-se com a qualidade da obra, mesmo que se trate
de um Rembrandt de aerossol: arrisca-se a que o fiscal, emulando o chefe, saque
logo da pistola à simples menção da palavra arte.
Barragens coloridas
Depois de projectar filmes com avezinhas e paisagens nos paredões das
barragens como prova de que o seu coração é verde, a EDP resolveu agora arregimentar
arquitectos e artistas de renome para branquear colorir ou conceber as
suas obras.
Não devemos ser insensíveis a toda a arte pública e não custa ver
sensatez na ideia de pôr arquitectos qualificados a procurarem soluções
inteligentes que minimizem o impacto daquele tipo de obras. Contudo, no que se
refere à EDP é também previdente deixar-se sempre um pé para trás. Como
resistir à tentação de ver nisto uma manobra de diversão? O amarelo da barragem
da Bemposta tem o potencial de gerar uma discussão mais fácil e apaixonada (e
inócua) do que uma que incida sobre a razoabilidade do plano nacional de
barragens. Ou sobre o tarifário da empresa.
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