domingo, 2 de fevereiro de 2014

O caso El Mundo ou os dias contados da imprensa séria

O El Mundo trouxe à luz do dia os casos Bárcenas (financiamento ilegal do PP, partido do Governo em Espanha) e Urdangarin (escândalo de corrupção protagonizado pelo genro do Rei).
Os accionistas de El Mundo, inesperadamente, afastaram Pedro J. Ramirez da direcção do jornal que fundou.
Diz-se por todo o lado, e é difícil achar falso o estrepitoso rumor, que o afastamento surge por pressão do Governo espanhol e da Casa Real.
Longe vai o tempo em que havia tipos de dinheiro a investir em projectos de jornalismo de investigação em vez os dificultarem. Em Portugal, o dinheiro disfarça-se de mecenas para pagar umas reportagens de cariz histórico ou cultural (as do Público Mais). São interessantes e aliviam a consciência de todos os envolvidos: investidores, jornal e leitores, que assim podem assistir impávidos ao definhar da investigação.
Apesar de injusto (numa primeira fase) para os restantes jornalistas de El Mundo, os leitores do jornal deveriam boicotá-lo a partir de hoje. Doutra maneira, será cada vez mais difícil haver imprensa independente e ousada, condição essencial das democracias.
Mas não tenho muita fé em atitudes drásticas por parte dos leitores. Em Trás-os-Montes, o único jornal que conheci que de facto fez jornalismo (o Semanário Transmontano) terminou um dia por cansaço sem que se ouvisse um queixume em todo o “reino maravilhoso”.
Na península (e não só nela), o conluio entre o dinheiro e os poderes ainda tem muitas ofensivas para fazer antes que o povo perceba o que perde perdendo a democracia. E a democracia perde-se quando se perde o jornalismo de investigação. Continuem a iludir-se com o jornalismo cidadão e tretas afins.

1 comentário:

  1. Concordo em número, género e grau. E, apesar de estupefacta com o que lhe fizeram, não deixei de me surpreender por ter aceite ficar com umas migalhas de trabalho.
    E isso, o que é?

    O mundo vai ficando embrutecido com as mais variadas distracções.
    Egoístas, queremos é sossego. Os outros são péssimos? Então que se danem. A liberdade deixou de passar por aqui.

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