domingo, 16 de fevereiro de 2014

Escritor de levar para casa

Li que Valter Hugo Mãe esteve à conversa com leitores em Bragança ou Macedo e que a algumas pessoas no fim apetecia levá-lo para casa, por ser tão doce. Fiquei deprimido, com a inveja. Depois esbofeteei-me. Pela estupidez.
A inveja entre escritores é proverbial* — e tê-la sentido alegrou-me. Pensei que já podia pegar no telefone e dizer: «Mãe, sou escritor!», como se tivesse detectado os primeiros pêlos no buço (ou em zona mais meridional) e quisesse gritar: «Mãe, já sou homem!»
Mas de seguida fiquei deprimido, porque, embora exagere nos açúcares, jamais serei um tipo doce que as pessoas queiram ir ouvir falar — quanto mais levar para casa.
Se depois me esbofeteei é porque me lembrei que detestaria que as pessoas me quisessem levar para casa. Se por hipótese bizarra me quisessem ir ouvir falar.

* Leia-se A Informação, de Martin Amis.

3 comentários:

  1. Levar para casa... e dar-lhe uso.

    É frequente, segundo o próprio o confessa, receber convites de mulheres para que ele seja o pai dos filhos que elas gostavam de ter dele.

    Não sei se ele aceita ou não mas, se aceita, é bem capaz de daqui por algum tempo, nos vermos confrontados com um batalhão de valtinhos (de norte a sul de Portugal e, inclusivamente, no Brasil pois parece que lá ainda o acham mais fofinho).

    Um pesadelo. A menos que as crianças saiam às mães.

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  2. É curioso RUI como eu também sinto por si o mesmo complexo de inferioridade que sente pelo VHM. (Risinho satânico) E, mais curioso ainda é que eu não o tenha sentido por ele quando o tentei ler pela primeira vez, e não fui capaz. O que senti foi uma enorme vontade de lhe escrever a pedir de volta o dinheiro do livro. Vai ver Rui e o altíssimo é mesmo eficaz a gerir este género de incómodos. Chega-me até a parecer que ele faz isto de matreiro, quando dá o dom a uns e o provento aos outros, mais dele necessitados. É que, tenho quase a certeza, ele sabe que o preço do talento é muito alto e por isso ajuda os que não podem pagá-lo. Segue um abraço. Ah, e trate de estimar bem esse complexo que eu anseio por muitos e mais IDIOTAS.

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  3. Caro JMP: obrigado pelas lisonjeiras considerações. Infelizmente uma sequela d’Os Idiotas não é coisa que se adivinhe para breve, viver dá muito mais trabalho do que seria aconselhável. Ou, quem sabe, o altíssimo dá um jeito.

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